O tabagismo é, em termos de saúde pública, a toxicomania mais difundida e de aspecto mais prejudicial.
Poderíamos estender-nos por várias páginas sobre os malefícios do tabagismo para a saúde. No entanto, para não fugir ao nosso tema, descreveremos apenas os efeitos do fumo durante a gestação.
A fumaça do cigarro é uma mistura de mais de mil tipos de substâncias diferentes, algumas delas cancerígenas. A mais prejudicial para a saúde humana é a nicotina.
A nicotina é uma droga que se assemelha quimicamente a várias substâncias orgânicas naturais, com importantes papéis nos sistemas nervoso e cardiovascular, as quais chamamos, genericamente, de neurotransmissores.
Os neurotransmissores são responsáveis pela regulação fisiológica de diversas atividades vitais, como os batimentos cardíacos, a pressão arterial, o fluxo sangüíneo e quase todas as funções cerebrais.
Inalada pelos pulmões, a nicotina ganha a corrente sangüínea, circulando por todo o corpo. No caso da gestante, alcança facilmente a placenta, passando para a circulação sangüínea do feto, no qual exerce efeitos devastadores.
Por confundir-se quimicamente com os neurotransmissores naturais, a nicotina provoca um desequilíbrio na regulagem fisiológica do fluxo sangüíneo. Por ser um órgão essencialmente vascular, quem mais sofre as conseqüências é a placenta.
A placenta é um órgão que se forma somente durante a gravidez e que tem a função de retirar o oxigênio e os nutrientes do sangue materno, transferindo-os para o sistema circulatório do feto. Além disso, transfere as toxinas resultantes do metabolismo fetal para a corrente sangüínea materna, de onde são eliminadas pelos rins ou pelo fígado.
Estudos com microscopia eletrônica demonstram que a nicotina produz acentuadas alterações degenerativas nos vasos da placenta, prejudicando-lhe o desempenho e causando o envelhecimento precoce do órgão.
Ao mesmo tempo que isso ocorre, o monóxido de carbono inalado com a fumaça do cigarro diminui a capacidade de transporte de oxigênio pela hemoglobina. O resultado dessa combinação de fatores é menor oferta de oxigênio para o feto e número maior de patologias placentárias, comprometendo-se tanto a evolução da gravidez como o desenvolvimento intra-uterino da criança.
Sabemos que o tabagismo materno está relacionado com várias doenças da gravidez e que o risco de aparecimento dessas patologias aumenta proporcionalmente com a quantidade de cigarros fumados pela gestante.
Podemos citar como patologias cujo risco é aumentado pelo tabagismo:
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Abortamento espontâneo.
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Óbito fetal.
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Sangramento gestacional.
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Placenta prévia.
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Descolamento da placenta.
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Ruptura prematura e prolongada das membranas fetais.
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Parto prematuro.
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Retardo no crescimento intra-uterino do feto.
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Óbito neonatal.
Além das patologias próprias da gravidez, o tabagismo continua exercendo seu efeito deletério na vida pós-natal. A nicotina diminui a produção de leite, fazendo com que as mães tenham menor capacidade para amamentar. Filhos de grandes fumantes são irritadiços e tendem a ter tremores e sobressaltos. Evidenciou-se certo grau de deficiência auditiva em filhos de fumantes, devido à lesão do ouvido interno pelo efeito do monóxido de carbono. O desempenho dos filhos de fumantes em testes neurológicos, psicológicos e de função intelectual é sempre pior do que o dos filhos de mães que não fumam. Filhos de fumantes têm muito mais problemas respiratórios, como pneumonias, bronquites e infecções, e necessitam muito mais de antibióticos, consultas médicas e hospitalizações.
Sendo assim, ao planejar a gravidez, você, futura mamãe, elimine primeiro o fumo de sua vida e da vida de seu companheiro. A eliminação do tabagismo materno é essencial mas, se o marido continuar a fumar em casa, fica muito difícil para a esposa persistir na resolução de abandonar o vício, sem falar nos prejuízos que o fumante passivo contabiliza pela convivência diária com o tabagista ativo. Atualmente, existem muitos recursos terapêuticos auxiliares na eliminação do vício. Converse com o seu médico. Ele saberá recomendar o melhor estratagema.